segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Sobre como nos afastamos do nosso caminho...

          Estive refletindo esses dias sobre como nos afastamos de nossas propostas. No meu caso específico, sou músico e escolhi essa profissão porque amo a música e tudo do que dela vem. Durante toda minha adolescência fiz planos, estudei, ouvi música, assisti a vídeos, shows, entrevistas, busquei meus mestres e ídolos, fiz da palavra deles lei. Sonhava com o dia em que seria um grande músico, reconhecido pelo meu talento, vivendo da minha arte. Dessa maneira, era óbvio que então escolheria a música como profissão, não? Assim foi feito.

          Acontece que depois de alguns anos de janela, como costumamos dizer, percebi que a cada dia que passa, a luta pela sobrevivência na sociedade em que vivemos foi me afastando de meus primeiros anseios. Sonhava em ser um astro do rock. Rock é a única coisa que não toco. Não que outras formas de expressão musical sejam ruins ou não me satisfaçam. Mas onde está o sonho dos dezesseis anos? Morreu? Não. Foi suprimido pela rotina, diluído, massacrado pelo consumismo, a luta pelo dinheiro.

          Nesses anos de profissão conheci muita gente. Pessoas mais antigas nessa vida, outros chegando agora. Converso com todos. E nesses últimos dias, tenho percebido que esses sonhos morreram em quase todas essas pessoas. Perceber isso me deixou muito triste. É como comprar um carro para ir à praia e nunca por os pés na areia. Você investe seu tempo, dinheiro e vontade nesse carro e a vida simplesmente te leva para as montanhas. E você vai como se estivesse tudo certo. Não se dá conta de como esta longe do motivo que o levou a comprar o carro. Conhece pessoas, faz amizades, filhos... Sempre longe da praia. Ruim? Não necessariamente, pode ser até melhor. Mas e o sol, o mar...

          Longe da minha sonhada vida de rock star eu fiz grandes amizades e amei muito também. Não tenho direito de renegar o que vivi. Dizer que não foi bom porque não foi o que planejei. Mas construí pouco de artisticamente aceitável me afastando dos meus sonhos. Apenas subsisti. Apenas sub-existi, se assim posso dizer. Tenho testemunhado minha mortificação nesse aspecto a cada dia, quando penso em fazer coisas, comprar, me moldar a formatos que nem sequer foram os que escolhi pra mim. Reitero, não é ruim, só não é o que quis pra mim. Será que essas escolhas de agora vão um dia me levar aonde quero? Duvido muito. Deparo-me com argumentos pesados de como o que devo fazer vai acabar me levando a um futuro glorioso, que não quero.

          Acho que a conclusão que posso tirar dessa reflexão é que agora entendo quando ouço dizerem que música - e transfiro isso à arte em geral – é sacerdócio. Exige foco, disciplina e, sobretudo, vontade. Dizem que quem no altar vive do altar deve viver. Mas você vai ao altar para buscar algo que esta além da subsistência, do dinheiro. Não me parece certo simplesmente esquecer esse algo além por dinheiro. Agora entendo por que sou um prostuituto. Sou um vendido sim. Vendo minha arte, meu sacerdócio, meu dom e vendo barato. Mas estou disposto a mudar isso.